Technique: 25 anos de um clássico

Em janeiro de 1989, o New Order lançou não somente o que veio a ser seu último álbum pela Factory Records, mas também o que se tornou sua obra-prima. Technique é um daqueles trabalhos cujo impacto pode ser medido tanto em termos de êxito comercial quanto em influência. O disco representa o ápice criativo do grupo, além de ser sua bolacha mais bem acabada em termos de arranjos, gravação e mixagem.

A história de Technique começa dois anos antes, em 1987, quando a acid house virou febre no Reino Unido. O gênero, uma variação da house music marcada pelos graves profundos e pesados da bateria eletrônica TR-808 e do sintetizador de baixo TB-303, ambos da Roland, nasceu das mãos de DJs e produtores de Chicago, nos Estados Unidos. Mas foi a partir da Inglaterra que o estilo ganhou o mundo – e um lugar em especial teve um papel crucial nessa popularização.

O nightclub Haçienda, mantido e administrado pelos integrantes do New Order e pela Factory Records, foi o principal reduto da explosão da acid house em território inglês. Ali nascia a rave culture e a onda do ecstasy (como demonstrado no filme 24 Hour Party People, de Michael Winterbottom). Ao mesmo tempo em que estavam ajudando a difundir novas tendências com sua casa noturna, Bernard Sumner, Peter Hook, Gillian Gilbert e Stephen Morris estavam, eles próprios, assimilando elementos desse novo som. E então resolveram pôr a mão na massa.

De Manchester foram para Ibiza, nas Ilhas Baleares (Espanha). Lá encontraram, além de um estúdio com bar e uma piscina (Mediterranean Studios), baladas, álcool e drogas, muitas drogas. As noitadas nos clubs de Ibiza foram embaladas ao som de outra grande influência notada em Technique: o balearic beat. Trata-se de uma vertente bastante eclética da música eletrônica popularizada em clubes como o Pachá e o Amnesia e que misturava rock psicodélico, eletropop, italodisco e, naturalmente, house.

Esse foi o clima de criação de Technique: durante o ano de 1988, a banda virava as noites em boates ouvindo doses concentradas de acid house e balearic beat, entornando drinks, tomando drogas e, com o sol raiando, em ritmo non stop, rumava direto para estúdio para compor e gravar. Mas o álbum não foi totalmente gravado em Ibiza. Technique foi finalizado na Inglaterra, no Real World Studios de Peter Gabriel, localizado em Box, um vilarejo de Wiltshire.

Em novembro, com o álbum já terminado, o New Order voltou a fazer shows ao vivo depois de uma pausa de um ano com apresentações no Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). Nesses concertos, a banda mostrou em primeira mão algumas canções de Technique, como “Fine Time”, “Vanishing Point”, “Mr. Disco” e “Dream Attack”. Inclusive, durante a passagem pelo Brasil, “Fine Time” foi apresentada na Inglaterra como o primeiro single, antecipando o lançamento do álbum, o que só viria acontecer mesmo no ano seguinte.

“Fine Time” é puro acid house. O single alcançou o 11º lugar na parada inglesa. Um bom começo é verdade. Nada comparado, no entanto, ao desempenho do próprio álbum, que chegou ao primeiro lugar. O segundo single extraído de Technique também se tornou um grande hit, inclusive no Brasil: “Round and Round”. O LP recebeu elogios da crítica especializada dentro e fora da Europa, ajudou a tornar a acid house ainda mais popular e influenciou diversas bandas, do rock à dance music, como 808 State, Stereo MCs, Happy Mondays, Stone Roses, Primal Scream, entre outras.

O álbum já foi incluído em diversas listas. Dentre elas, a da Q Magazine dos “40 Melhores Álbuns da Década de 80”, a do “Guia do Rock Alternativo” da Spin e a do 1001 Discos Para Se Ouvir Antes de Morrer. Em 2008, a Rhino Records, selo vinculado a Warner especializado em edições deluxe e relançamentos para colecionadores, reeditou Technique em versão remasterizada e acompanhado de um CD bônus com remixes e lados B. Todavia, apesar de tudo isso, raras são as ocasiões hoje em dia em que os fãs podem ver a banda tocar músicas do disco. Durante as turnês de Get Ready (2001/2002) e Waiting for the Sirens’ Call (2005/2006), nenhuma música de Technique foi executada ao vivo. Após a “reforma” do New Order, ocorrida em 2011, o grupo com sua nova formação chegou a tocar “Round and Round” cerca de duas ou três vezes... e nada mais. A última vez em que canções do álbum estiveram regularmente presentes no repertório foi em 1993, durante a turnê de Republic.

Entretanto, não deixa de ser um pouco a cara do New Order deixar à margem em seus shows seu disco mais aclamado. Afinal, foram muitas as vezes durante a década de 1980 (para citar um exemplo) que eles deixaram o palco sem tocar seu maior single, “Blue Monday”.  Isso mostra que talvez eles não tenham perdido totalmente a boa e velha atitude que os deixou famosos.  Para muitos, esse tipo de desdém fez deles um dos grupos mais cool que já apareceram desde o Velvet Underground.  Por isso, não esperem por uma edição comemorativa de 25 anos de lançamento.