Quem são Phil Cunningham e Tom Chapman, os dois últimos membros da família New Order?

30 de abril de 2014, 13:35.

Durante muitos anos, é provável que nenhum fã tenha imaginado que algum dia o New Order teria outra formação que não fosse Bernard Sumner, Peter Hook, Gillian Gilbert e Stephen Morris. Mas, um dia, o que ninguem imaginava aconteceu: Gillian teve duas filhas (gêmeas) com Morris e uma delas contraiu mielite transversa, o que a fez se afastar da banda e a se dedicar única e exclusivamente ao papel de mãe e dona de casa. Em seu lugar, entrou em cena Phil Cunningham. Tudo bem, o público aceitou numa boa, afinal Gillian sempre teve uma participação muito discreta no grupo e raramente se fazia notar graças a seu eterno jeito blasé de ser. Musicalmente, muitos pensaram, ela não trouxe grande contribuição, já que os verdadeiros responsáveis pelo lado techno do New Order eram Bernard e Steve. 

Mas todo mundo ficou de cabelo em pé mesmo alguns anos mais tarde, quando a banda passou pelo o que muitos consideram a mais radical - e impensável - de suas metamorfoses: Peter Hook, o idolatrado baixista, se retirou de cena (após imbróglios mais ou menos públicos com seus ex-colegas) e a vaga foi preenchida pelo franco-inglês Tom Chapman. E agora que as crianças já estão crescidas, bem alimentadas e bem cuidadas, porque não chamar a Sra. Morris de volta? Pois então o inimaginável aconteceu: o New Order agora é Bernard Sumner, Stephen Morris, Gillian Gilbert, Phil Cunningham e Tom Chapman. Peter Hook não concorda: ele prefere chamar essa banda de "New Odor". Mas isso é outra história.

Polêmicas a parte, nossa proposta é oferecer aos internautas de língua portuguesa algumas informações sobre os dois últimos membros incorporados à família New Order. De onde são? Por onde passaram? Como chegaram à banda? Têm vida fora do New Order? A ideia é tentar responder a estas questões. Então, vamos lá.

Phil Cunningham nasceu em Macclesfield, no condado de Cheshire, Inglaterra, no dia 17 de dezembro de 1974. Curiosamente, sua cidade natal é a mesma de origem de Ian Curtis e Stephen Morris e fica nas proximidades da Grande Manchester. Foi ainda nos tempos de escola que Cunnigham iniciou sua parceria com o vocalista Jamie Harding, com quem formou diversas bandas, como Cloud, Push The King e The Shags. Após esse período, cada um seguiu seu próprio caminho, sendo que em 1993 Harding formou uma nova banda, o Marion (que era o nome de sua avó), ao lado dos guitarristas Tony Grantham e Nick McCall, do baixista Damien Lawrence e do baterista Murad Mousa. O grupo enviou uma fita demo para o ex-empresário dos Smiths, Joe Moss, que gostou do que ouviu e resolveu ser o manager deles. Todavia, pouco tempo depois McCall, que só tinha 15, acabou sendo "convidado a sair" e Cunningham, a convite de Harding, acabou ocupando sua vaga. 

O Marion emergiu como uma grande reveleção na cena que ficou conhecida como britpop. Suas principais influências eram o Joy Division, os Buzzcocks e os Smiths. Sua reputação começou a aumentar graças à qualidade de seus shows ao vivo. Abriram concertos para o Radiohead e para Morrissey. Apesar de terem sido considerados uma das principais promessas da década, não atingiram o sucesso esperado e se separaram em 1999. Mas foi nesse mesmo ano que Phil se juntou ao Electronic, projeto paralelo de Bernard Sumner ao lado de Johnny Marr, ex-guitarrista dos Smiths. Cunningham foi recrutado como músico de apoio para a turnê de divulgação do álbum Twisted Tenderness, o terceiro e último da dupla.

E foi assim, via Bernard Sumner, que Phil Cunningham se conectou ao New Order. Quando começou a turnê de promoção do CD Get Ready, Gillian Gilbert havia deixado a banda para cuidar dos seus assuntos familiares. Cunningham foi então convocado para substitui-la na guitarra e nos teclados, inicialmente como músico contratado. Sua estreia no New Order ocorreu em um show no Olympia, em Liverpool, no dia 18 de julho de 2001, pouco mais de um mês antes de Get Ready sair. Quando a banda voltou a se reunir para gravar, lançar e promover o disco seguinte, Waiting for the Sirens' Call (2005), "Philly", como o guitarrista costuma ser chamado por alguns, foi incorporado como membro efetivo, transformando-se daí em diante em um New Order de verdade. E mesmo com o retorno de Gillian em 2011 ele não perdeu seu posto na banda - está lá até hoje.

Já Tom Louis Chapman nasceu em Chevreuse, na França, no dia 15 de maio de 1972.  Ele não somente é baixista, como também é tecladista e produtor musical. Em 2008 participou de The Cross Eyed Rambler, álbum de Paul Heaton (ex-Housemartins e ex-Beautiful South). Em 2009, Bernard Sumner, ao lado de Phil Cunningham e de Jake Evans, guitarrista do Rambo & Leroy e que também já havia participado de uma reunião do Marion, montou o grupo Bad Lieutenant, que lançou o álbum Never Cry Another Tear. Durante as seções de gravação, Chapman dividiu o posto de baixista com Alex James, ex-Blur, mas fixou-se de vez na função durante a turnê de divulgação do disco. Em 2011, quando foi anunciado que o New Order se reuniria para dois concertos beneficentes, um no Bataclan (Paris) e outro no Ancienne Belgique (Bruxelas), porém sem Peter Hook, Chapman foi escalado para a ingrata tarefa de substitui-lo nas quatro cordas. No final das contas, acabou ficando constatado que o retorno do New Order era para valer e Tom ficou com a vaga de vez, já que não se desenhou no horizonte qualquer possibilidade de Hooky voltar à banda - ou de ambos os lados mostrarem alguma vontade disso algum dia vir acontecer de novo.

Por enquanto, com o New Order, Chapman participou apenas de dois discos ao vivo: Live at the London Troxy (2011) e Live at Bestival (2013). No momento, ele está trabalhando com o grupo na produção de material novo - sendo que uma pequena amostra do que vem por aí viu a luz do dia em primeira mão durante a recente turnê pela América do Sul (a canção "Singularity", na qual o baixo de Tom é um elemento em destaque). Além disso, desde 2012 o músico mantém uma atividade paralela ao New Order: o banda/projeto Rubberbear, ao lado de Steve Trafford (ex-The Fall). O Rubberbear já lançou dois (bons) EP's: um auto-intitulado, feito com a colaboração de Phil Berchenall na produção e nas programações, e Elements

Embora "Singularity" tenha deixado uma leve impressão de que o material do "novo New Order" que está por vir não deve soar muito diferente do que já foi produzido pelo New Order "antigo" ou "original", o fato é que a verdadeira dimensão do impacto da formação atual sobre o estilo e a sonoridade da banda ainda é uma incógnita. Talvez uma espiada nos clipes abaixo de Marion e Rubberbear podem nos dar, quem sabe, algumas pistas. Ou não.