New Order fecha com Soundgarden o Lollapalooza Chile e estreia composição nova

01 de abril de 2014, 22:48.

O New Order resolveu iniciar sua turnê de 2014 pela América do Sul e os chilenos foram os primeiros a saudarem a volta do grupo ao continente. Incorporada ao line up do megafestival Lollapalooza, que além da capital do Chile passará ainda por Buenos Aires (hoje e amanhã) e Brasil (dias 05 e 06 de abril), a banda fechou a segunda noite no Parque O’Higgins ao lado do Soundgarden. Todavia, enquanto a turma de Seattle fazia a alegria dos amantes do som grunge dos anos noventa em uma performance de grande alarde no Claro Stage, o New Order fazia um show para um público mais seleto, mas não necessariamente pequeno e menos empolgado, no “modesto” Playstation Stage.

O show começou com pontualidade britânica e com a tradicional trilha-sonora de Ennio Morricone chamando o grupo ao palco. E como de costume, o som no começo da apresentação – com “Crystal” – estava pela hora da morte: estourado, embolado e mal se podia ouvir a voz do guitarrista e vocalista. Foi melhorando aos poucos, como já se esperava, mas em geral o áudio estava demasiadamente alto, barulhento, com graves muito estourados. Os produtores do evento, aliás, deveriam saber que potências extremas podem ser úteis em shows nos quais o peso e o punch são os principais ingredientes. Mas no caso da música do New Order – mais rítmica, sofisticada e com mais nuances, timbres e texturas – o P.A. a todo volume não é um benefício.

Isso não prejudicou a atuação da banda. Novamente a música – sempre ela – fez a diferença. Atualmente, os shows do New Order são como discos de greatest hits tocados ao vivo. Embora isso os faça alvo de ataques e críticas, inclusive vindos de seu ex-baixista (Peter Hook), não há como negar que esse é o negócio que funciona: da audiência ocasional aos mais radicais fãs de b-sides e obscuridades, todos pulam, cantam e dançam (e como!) ao som de “Regret”, “Ceremony”, “Bizarre Love Triangle”, “Blue Monday” e “Temptation”. A essa altura do campeonato, o New Order se recusa a querer jogar jogo perdido e sua tática há alguns anos tem sido entrar em campo somente com o estádio lotado, dar seu show para a torcida e ouvir os gritos de “Olé!”.

Todavia, vez por outra eles ainda “se dão o luxo” de sair da zona de conforto.  Após “Regret”, Sumner aproveitou a pausa para dizer ao público que estava estreando uma guitarra nova e que a próxima música seria uma canção que a banda ainda não tinha apresentado ao vivo. Para a surpresa de todos, era um tema totalmente novo, o primeiro desde a saída de Peter Hook. Baixo pulsante, bateria “no talo”, uma orgia de synths e sequencers e guitarras oscilantes... uma música com cara de New Order.  Foi uma amostra promissora do produto do trabalho que o grupo vem realizando em estúdio desde o ano passado.

De resto, foi tudo mais do mesmo: Sumner não tem a mesma presença de palco do ex-colega Peter Hook, mas continua se esforçando, isso sem falar na sua notória limitação como vocalista; já Gillian Gilbert, como de hábito, passou todo o show praticamente imóvel atrás do seu Roland Fantom G7; Stephen Morris, por sua vez, parece desaparecer atrás de sua bateria cheia de recursos e truques eletrônicos, mas é ele quem faz a plateia vibrar com seus beats; e, ao final, a tradicional encore dedicada ao Joy Division com “Atmosphere” (tecnicamente prejudicada pelo excesso de reverberação) e “Love Will Tear Us Apart”.

Foram, ao todo, treze músicas.  E, no final, ficou uma lição para a “crítica especializada”: por mais que ela diga que o New Order é uma banda desgastada e que seu show é um Baile da Saudade com um ingresso bem caro, não se pode esquecer que o elemento de avaliação principal em um concerto deve ser a resposta da plateia, sua vibração e sua energia. E no caso específico dessa apresentação no Lollapalooza em Santiago, a explosão de êxtase dos chilenos deixou claro de que o New Order continua em alta com quem realmente tem que sair satisfeito de um show: o público (e não críticos e jornalistas metidos a sabichões). 

SET LIST:

Crystal
Regret
Ceremony
Your Silent Face
Bizarre Love Triangle
True Faith
5-8-6
The Perfect Kiss
Blue Monday
Temptation
Atmosphere (encore)
Love Will Tear Us Apart (encore)

Crédito de foto: Júlio Ortúzar para Humo-Negro.