N.O. Way avalia o "oficioso" DVD brasileiro "INmusic Festival 2012"
26 de julho de 2014, 01:44.
Enquanto o New Order não põe no mercado nenhum DVD ou Blu-Ray oficial das recentes apresentações que vem realizando desde 2011 com sua nova formação - Bernard Sumner (voz, guitarra), Gillian Gilbert (teclado, guitarra), Stephen Morris (bateria, teclado), Phil Cunningham (guitarra, teclado) e Tom Chapman (baixo) -, os fãs brasileiros poderão se contentar com o lançamento "oficioso" disponibilizado desde o último dia 19 de julho pela gravadora Coqueiro Verde Records, INmusic Festival 2012, gravado ao vivo em Zagreb, Croácia, no dia 29 de junho 2012.
Conforme já havíamos esclarecido aqui mesmo no site, a Coqueiro Verde Records é uma gravadora que, apesar de possuir um cast próprio de artistas nacionais, também se especializou no lançamento de "material exclusivo" de nomes gringos. O selo foi fundado por Marcos Kilzer e seu filho Von, e também por Leo Esteves, filho do cantor Erasmo "Tremendão" Carlos. Além disso, é controlado pela Sony Digital Audio Disco Corporarion (Sony DADC). No que tange aos lançamentos internacionais, a Coqueiro Verde escolhe a dedo material não lançado oficialmente pelos artistas lá fora, a exemplo de shows exibidos/transmitidos originalmente via live streaming pela internet, e depois os edita aqui no Brasil sob chancela da Sony DADC, fabricando-os legalmente na Zona Franca de Manaus.
Este é o caso de INmusic Festival 2012, do New Order. Logo, o procedimento da Coqueiro Verde Records é equivalente ao da lavagem de dinheiro: você pega a grana arrecadada em uma atividade ilícita, depois a utiliza investindo-a em um empreendimento legal que dê grande retorno a curto prazo e em seguida você tem lucro líquido limpo e, digamos, "honesto". No caso do concerto do New Order no festival croata INmusic, ele foi transmitido pela internet através do site do canal público local de TV HRT 2 Hrvastka Radiotelevizija e, em seguida, "caiu na net", tendo se transformando em um arquivo torrent já conhecido (e compartilhado) pelos fãs. A Coqueiro Verde fez o que já havia feito, por exemplo, com as apresentações de Arcade Fire e do Cure no Reading Festival de 2010 e 2012, respectivamente (e que se encontravam em igual situação): meteu a mão grande nas duas, as transformou em DVDs e os pôs nas melhores lojas do ramo. E sem o menor constrangimento, diga-se de passagem. Afinal, quem tem a Sony por trás, tem as costas quentes, não é?
Encomendamos nossa cópia do INmusic Festival 2012 pelo site da loja London Calling, que nos comunicou com antencedência sobre o lançamento. Apesar de não ser um item oficial, foi produzido e lançado legalmente por estas bandas, então o DVD chegou devidamente selado/lacrado, como qualquer outro disco digital de áudio e vídeo fabricado no Brasil. Além disso, houve um certo interesse da gravadora de produzir um artwork que remetesse ao estilo habitual da banda. Para isso, ao invés de arriscarem uma invenção que poderia terminar no mais absoluto desastre, optaram pela segura escolha de se inspirarem na capa do álbum Movement. O resultado final é simples, minimalista e clean, mas pelo menos não caiu no gosto duvidoso típico dos bootlegs. A contracapa contém três caps do show e um texto de apresentação simples, mas bem escrito, e que funciona bem como introdução à banda para quem é leigo, além de esclarecer de que se trata de um show já com a nova formação. Ou seja, até aqui não há nada que induza o comprador ao erro.
Capa inspirada no projeto gráfico de Movement |
Contracapa do DVD | DVD devidamente selado |
Embalagem aberta e o disco com seu artwork |
Obviamente, as impressões mais corretas à respeito do produto só podem ser feitas depois que se coloca o disquinho para rodar no DVD player. O menu, como de costume, revela bastante coisa. Ou, neste caso, pouca. Não há extras, mas isso já se esperava. Há duas opções de áudio: dolby 2.0 e dolby 5.1. Experimentamos as duas, mas na verdade não se nota nenhuma diferença. Em todo caso, o áudio do show é bom. É possível notar algumas sutis imperfeições aqui e ali: o baixo de Tom Chapman está um pouco à frente dos demais instrumentos, enquanto que o teclado de Gillian Gilbert parece um pouco atrás. Mas nada que seja comprometedor. Para um som que não foi retrabalhado em estúdio, já que esse show não foi planejado para ser lançado em DVD, está bom demais. Certamente, é um dos pontos positivos desse lançamento tupiniquim.
Menu principal | Menu seleção de músicas | Menu seleção de músicas 2 |
Mas devemos reforçar ao leitor deste review o que acabamos de dizer nas linhas acima: originalmente, esse show não foi preparado pela banda para ser oficialmente lançado em DVD, logo alguma coisa tinha que cumprir o papel da "bola fora". E, neste caso, a grande mancada ficou por conta da imagem, que não é em alta definição (e o formato da tela é 4x3). Isso quer dizer que quanto maior for sua TV de led, pior vai ficar. Isso que dá roubar vídeo de internet e transformar em DVD. Uma vez que a Coqueiro Verde não tem acesso aos sources originais, dá nisso. Ainda por cima, somos obrigados a ver o show inteiro com a logo da HRT 2 no canto superior esquerdo da tela. É cômico e rídiculo ao mesmo tempo. O problema não é exclusivo desse título do New Order: é um problema recorrente de todos os titulos internacionais da Coqueiro Verde, invariavelmente. Fãs hardcore, felizmente, não ligam muito para isso. A coisa muda de figura quando o consumidor não pertence a essa categoria.
Faltou falar sobre o show em si. Infelizmente, a primeira música do set, "Elegia", não consta no DVD. O vídeo já começa com "Crystal", o que é estranho, já que a introdução original dessa canção havia sido substituída pela versão encurtada da faixa instrumental que abre o lado B de Low Life (1985). De qualquer forma, percebe-se que de 2012 para cá o repertório das apresentações sofreram modificações mínimas. Canções como "Krafty", de Waiting for the Sirens' Call (2005), e "1963", lado B do single "True Faith", acabaram dando lugar a novidades como "Singularity" e "Plastic", que deverão fazer parte do álbum de inéditas que o New Order promete para breve. Além disso, em 2012 "Temptation" ainda fazia parte da encore e encerrava o show. Hoje, também há espaço para canções do álbum de out-takes de 2013, Lost Sirens, como "Californian Grass". No mais, tudo que se tem hoje em uma apresentação da Nova Ordem já foi conferido no concerto em Zagreb de dois anos atrás: "Ceremony", "Age of Consent", "Isolation", "Bizarre Love Triangle", "5-8-6", "True Faith", "Perfect Kiss", "Blue Monday", "Love Will Tear Us Apart"... E com os mesmos arranjos.
Mas se esse mesmo show já pôde ser conferido pelo menos em dois CD oficiais (importados), Live at the London Troxy e Live at Bestival 2012, qual seria a graça de se comprar uma espécie de "DVD pirata legalizado" dessa mesma leva de concertos? Bem, embora exista muita gente que acha que não vale a pena ver o New Order ao vivo e que é melhor ficar com a banda em disco, esse INmusic Festival 2012 não deixa de ser indicado para colecionadores aficcionados. Mesmo que estes já o tenham armazenado em seus HDs há um bom tempo, ter na coleção uma versão produzida industrialmente e que também é razoavelmente bem apresentada tem lá seu valor. Mas quem não faz parte desse grupo, é melhor pular fora. Mesmo não custando caro e o show sendo bacana, a baixa qualidade técnica do vídeo e a ausência de outros atrativos (extras) não compensa para outros perfis de público.
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