Por dentro de "Lost Sirens"

18/01/2013 12:31

Há exatos dois dias foi lançado oficialmente na Inglaterra pelo selo Rhino, da Warner Music, o mini-álbum Lost Sirens, que reúne as "sobras" das sessões de gravação do CD Waiting for the Sirens' Call, de 2005. Este é também o último registro de faixas inéditas do New Order com a participação de seu baixista original, Peter Hook, que deixou a banda em 2007. Os fãs tiveram que amargar uma longa espera: o grupo manifestou o desejo de lançar estas faixas (sete no total), que seriam acrescidas de material a ser escrito posteriormente, tão logo terminasse a turnê do Sirens original, o que acabou não acontecendo devido o rompimento de Hook com os outros integrantes da banda e o pouco interesse da gravadora em lançar apenas as canções que já estavam disponíveis.

Mas em junho de 2010, a Rhino/Warner lançou a coletânea Total: From Joy Division to New Order, que disponibilizou ao público pela primeira vez um dos outtakes de Sirens: "Hellbent". No final desse mesmo ano, coincidindo com o polêmico retorno da banda, foi anunciado que finalmente as "Sereias Perdidas" seriam lançadas numa espécie de "EP expandido" de oito faixas - as sete sobras (incluindo "Hellbent") e um remix de "I Told You So". Mas o disco acabou levando mais de um ano para, enfim, ver a luz do dia. 

A nossa fan page resolveu fazer um raio-X desse que, por ora, é o álbum de despedida de Peter Hook. Ainda não se sabe se será o último lançamento de inéditas de estúdio do New Order, embora já existam rumores que a nova formação da banda teria começado a soltar as primeiras faíscas de um novo lote de composições. O que se sabe é que a ordem do dia para o grupo é a turnê mundial programada para este ano. Por enquanto, nos resta conferir o que este Lost Sirens nos tem a oferecer. 

O disco, lançado em duas versões na Inglaterra (compact disc simples e uma edição especial LP + bônus CD), joga de cara para o ouvinte uma boa isca: “I'll Stay With You”. A faixa, que antes de Lost Sirens ser lançado ficou conhecida na “boca pequena” como “Sisters and Brothers”, nos fisga nos primeiros segundos com seu sintetizador pulsante; quando imaginamos que seremos levados a um saltitante tema de pista, daqueles que o New Order se especializou em produzir nas décadas de 1980 e 1990, a banda nos prega uma peça e nos apresenta uma canção baseada em guitarras, com baixo “no talo” e bateria bem marcada, porém sem deixar de lado os inseparáveis teclados. É uma música que preserva a linha dominante da produção mais recente do grupo. Não há engano: parece mesmo saída de Sirens.

Na faixa seguinte, “Sugarcane”, canção cuja letra procura mostrar que a vida de uma estrela também tem seus dissabores, o New Order reassume sua face pop-dançante. Mas aqui o N.O. soa muito mais como a produção dos nomes contemporâneos do que como aquela club band dos áureos tempos. Isso não chega a ser necessariamente um problema. Estaria o grupo justamente tentando deixar claro para todos de onde Franz Ferdinand, Killers e outros tiraram sua inspiração? Especulações à parte, a faixa cumpre honrosamente seu papel de hit em potencial.

Há outros momentos inspirados em Lost Sirens. Como, por exemplo, “Californian Grass”, música que carrega em seu DNA os genes de temas como “Run” e “Turn”. É um dos pontos altos do disco - guitarra, baixo, bateria e voz misturados a uma massa de teclados e cordas. A já conhecida “Hellbent" também merece destaque. Ela se tornou o “cartão de visitas” de Lost Sirens quando apareceu pela primeira em 2011 por ocasião do lançamento da coletânea Total. O New Order tornou-se mestre em fazer de uma única faixa uma sinopse de suas três décadas de carreira e este é um perfeito exemplo (“Krafty”, do disco anterior, merece uma menção honrosa também). Aqui a canção reaparece com uma mixagem ligeramente diferente. Perfeita combinação entre músicos e máquinas/computadores, entre live music e electronic music, fusão da qual o New Order se tornou uma das maiores referências.

Contudo, era de se esperar que um disco de sobras de estúdio contivesse algumas faixas de menor impacto - e com Lost Sirens não podia ser diferente. A única faixa techno no sentido strictu sensu  e pleno, “Shake It Up”, tem refrão que nos remete à “Confusion”, mas os excessos de “Hey!”, “Yeah!" e “Go!” gritados em coro nos vocais dá à canção um certo ar de pop descartável, apesar do ótimo arranjo. Já “I’Ve Got a Feeling” é o momento menos inspirado do disco, o que é uma outra forma (gentil, digamos) de dizer que se trata da faixa mais fraca do álbum. Não acrescenta nada ao CD. Ainda assim, é audível a ponto de ser possível ouvi-la até o final. Mas a sensação que ela desperta ao término de sua audição é de absoluta indiferença.

Lost Sirens se encerra com “I Told You So (Crazy World Mix)”. Ao lado de “Hellbent”, esta versão de “I Told You So” já tinha sido oficialmente lançada antes de Lost Sirens vir a público. Originalmente estava disponível apenas em um vinil lançado pela New State Recordings na série New Order 12 x 12” Vinyl Campaign sob o nome “I Told You So (Stuart Price Remix)”. Infinitamente superior ao mix original, a canção passou a soar incrivelmente parecida com “Venus in Furs” do Velvet Underground. Os fãs comemoraram o fato dessa versão ter sido finalmente disponibilizada em CD.

Ao final de uma audição de Lost Sirens, impossível não pensar que Waiting for the Sirens’ Call poderia ter sido um álbum muito superior - apesar de não ser um disco necessariamente ruim - se os melhores momentos de seu sucessor estivessem no lugar de temas poucos empolgantes ou rasos como “Dracula's Castle”, “Morning Night and Day” ou “Working Overtime”. Entretanto, se preferirmos pensar de outra maneira, isto é, comparando-os um com o outro, Lost Sirens, na opinião desta fan page, sairia ganhando por ser um disco mais enxuto e equilibrado, além de não fazer feio na discografia na banda.