Peter Hook lança tributo honroso à sua ex-banda

12/05/2013 18:45

 

 

Em uma das várias entrevistas que concedeu nos últimos meses respondendo perguntas sobre os conflitos com seus ex-colegas de carreira musical, o baixista Peter Hook, um dos mais admirados de sua geração, disse que o que vem sem chamado atualmente de New Order, grupo que ajudou a fundar no começo na década de oitenta, é exatamente como o seu atual The Light, ou seja, uma banda-tributo, com a diferença que ele não quis chamar a si próprio de New Order. Uma parte significativa do público parece concordar com ele ao deixar comentários do tipo "New Order sem Peter Hook não é New Order" nos sites pela internet. Há (muita) gente que discorda, é claro.  Mas já que o baixista de som peculiar e inconfundível que se tornou marca registrada no som do N.O. admite que o The Light não é nada mais do que isso, uma banda-tributo, então é com base nessa premissa que devemos avaliar sua última cartada, o álbum Live at Manchester Cathedral: 18th January 2013, lançado pela Play Concert no último 22 de abril apenas para download.

 

 Mas antes, é preciso colocar as coisas no seu devido contexto. Após a confusa ruptura entre Hook e o New Order em 2007 e o fracasso retumbante do Freebass, protótipo de "supergrupo" de baixistas que incluía ainda Andy Rourke (ex-The Smiths) e Mani (Primal Scream), o músico inglês formou o The Light em 2010 com seu filho, Jack Bates, e outros músicos, com o a ousada proposta de fazer turnês tocando ao vivo e na íntegra todos os álbuns que escreveu e gravou com o Joy Division e o New Order. Depois de ter realizado parte da empreitada com Unknown Pleasures (cuja a tour passou pelo Brasil em 2011) e Closer, ambos complementados com outras jóias do repertório do Joy Division, atualmente chegou a vez de Peter Hook tirar o pó de muita coisa que o New Order (ou o que hoje pensa ser o New Order, dependendo do ponto de vista) não toca há anos.

 

Live at Manchester Cathedral tem, ao todo, 26 faixas - são os álbuns Movement e Power, Corruption and Lies tocados inteiros, acrescidos de canções do período 1981-1983, de "Ceremony" (o primeiro single) a "Blue Monday", incluindo os B-sides. De todo o set list desse show, apenas cinco ainda são tocadas ao vivo pelo New Order em sua atual formação. Certamente, isto faz valer a pena, para os fãs, o investimento de 9 libras para o download do álbum, já que é uma oportunidade de terem em seus iTunes, iPods ou Smartphones versões ao vivo de altíssima qualidade sonora de canções esquecidas pelo N.O., como "In a Lonely Place", "Mesh", "Hurt" e "Everything's Gone Green", ou que sequer tinham sido tocadas num palco alguma vez, como "Ecstasy", interpretadas por, pelo menos, um membro original.

 

Mas, não nos esqueçamos: o The Light é uma banda-tributo e a todo instante fica a impressão que estamos ouvindo um grupo cover do New Order. O que reforça esta impressão é que Peter Hook mexeu muito pouco nos arranjos de boa parte das músicas, fazendo-as soar muito parecidas com as versões de estúdio, algo que o New Order, com ou sem seu baixista original, nunca fez. E nas poucas ocasiões nas quais arriscou alguma mudança, foi para pior, como no caso de "Ceremony". Nesse aspecto, se compararmos, por exemplo a versão de "5-8-6" deste Live at Manchester Cathedral com a que está no último ao vivo do New Order, Live at the London Troxy, Hook perde pontos pela ortodoxia enquanto Sumner, Morris, Gilbert, Cunningham e Chapman fizeram um belo upgrade, tornando-a mais moderna. O mesmo vale para "Temptation". 

 

Porém, apesar dessas considerações, Manchester Cathedral é um bom álbum ao vivo, um trabalho que honra o passado. Quem, aliás, já viu Peter Hook e seu The Light em ação sabe que, a despeito de qualquer suspeita de picaretagem e oportunismo, é um baita show. Hook é um mestre dos palcos e, como um maestro, rege a banda e a platéia em boas performances do repertório que ajudou a imortalizar. E algumas gravações conseguem passar uma parte disso. "Cries and Whispers", "Everything's Gone Green", "Age of Consent" (uma das favoritas do baixista) e "Your Silent Face", por exemplo. Já que parece cada vez mais difícil Hook se juntar ao New Order novamente, seria bom vê-lo de novo por estas terras trazendo algumas pérolas esquecidas. O que não exclui a vontade de ver os homenageados novamente em solo brasileiro tocando só os grandes hits.