Live at Bestival 2012 [NOVO!]

07/07/2013 09:53

 

Que New Order é esse que nos brinda com este recém lançado Live at Bestival 2012?

 

Não se trata apenas de uma banda que perdeu, diga-se no sentido figurado, um “membro” (o idolatrado baixista Peter Hook) e que teve que substitui-lo por uma eficiente “prótese” (Tom Chapman).  O que está em jogo aqui não se resume somente a um reposicionamento de elementos (Gillian Gilbert, a tecladista original, retornou ao grupo depois de dez anos fora; Phil Cunningham, que a havia substituído, agora divide a função com ela quando não está fazendo dueto de guitarras com Bernard Sumner). Não, esse outro New Order vai além de uma simples mudança na sua formação.

 

É no que os ingleses chamam de attitude (postura) que residem as principais mudanças. Embora a causa do lançamento seja nobre (conversão dos lucros das vendas para o Isle of Wight Trust, uma ONG que trabalha com aconselhamento para jovens), este já é o segundo disco ao vivo em dois anos. Comparando os tracklists dos dois CDs, as diferenças são mínimas. Aliás, essa tem sido a característica dos shows da atual turnê: um set list praticamente fixo, que sofre pequenas alterações (pequenas mesmo) a cada noite. Em Lima (Peru), onde se apresentaram em abril passado, foram tratados como se fossem uma banda-celebridade; poucos dias depois, tocaram à beira de uma piscina de um luxuoso hotel de Las Vegas. Sim, o New Order vem se parecendo cada vez mais com aquelas super-bandas dos anos setenta que viajam pelo mundo tocando só os grandes sucessos e tirando dinheiro dos fãs. Aquele New Order que aprendemos a amar na década de 1980 era bem diferente – uma banda que mudava o repertório a cada show, que não voltava para o bis e que por várias ocasiões se recusou a tocar seu maior hino: “Blue Monday”. E agora Bernard, Stephen, Gillian, Phil e Tom têm até seus nomes escritos na contracapa!

 

Mas ao longo da audição de Live at Bestival 2012, nos damos conta de que embora a atitude que ficou para trás seja um ingrediente especial, a música é o que realmente importa. E o show gravado no dia 08 de setembro de 2012 na Ilha de Wight (Inglaterra), no festival que dá nome ao CD, mostra que é nesse território que o New Order fez realmente a diferença e que mesmo com uma nova formação essa música não perdeu seu valor. E o brilho.  

 

Algumas canções ganharam uma nova roupagem, isto é, novos arranjos (é o caso de “Bizarre Love Triangle”, “True Faith”, “Temptation”, “5-8-6”), outras continuam do mesmo jeito (“Regret”, “Krafty”, “Blue Monday”). Em todo caso, todas elas mostram a atualidade da fórmula inventada pelo New Order três décadas atrás e da qual beberam nomes mais recentes como Moby, Chemical Brothers, The Killers, entre outros.

 

E já que mencionamos os Chemical Brothers, a bela surpresa de Bestival é “Here to Stay”, canção que o New Order escreveu e produziu em parceria com a dupla em 2002. Com a exceção de guitarras extras, que caíram muito bem, esta versão ao vivo soa praticamente idêntica à original. Este é um dos últimos grandes momentos pop-eletrônico-dançantes do New Order, que durante os anos 2000 acentuou seu lado mais rock e orgânico. E falando em rock, não poderiam faltar canções do Joy Division – são três: “Isolation” (turbinadíssima!), “Transmission” (clássica) e a mais-do-que-óbvia “Love Will Tear Us Apart” (para encerrar o show).

 

Faziam parte do concerto “Crystal”, “Ceremony” e “Age of Consent”, mas estas acabaram não sendo incluídas no CD. Aliás, na comparação com o Live at the London Troxy, lançado em 2011, embora este Bestival perca alguns pontos por não trazer o show na íntegra, ganha tantos outros por “Isolation” e “Here to Stay” (essas duas já fazem valer a pena), por uma qualidade de gravação e mixagem superior (so sorry Abbey Road Live Here Now!) e por mostrar que a banda, de dezembro de 2011 a setembro de 2012, deu um salto em termos de performance, inclusive com as novas versões das faixas antigas soando ainda melhores, “redondinhas”.

 

A expectativa agora é pelo material inédito de estúdio que a banda promete ainda para este ano. Se tocando o repertório clássico a nova formação se saiu muito bem, resta saber se este novo New Order consegue convencer a crítica e o público de que também pode superar a saída de Peter Hook em estúdio e produzir canções que, embora não tenham pinta de clássicos, sejam pelo menos dignas de sua história. 

 

O projeto gráfico:

 

Para a decepção dos fãs das antigas, pela terceira vez consecutiva um disco do New Order não traz o nome do designer Peter Saville nos créditos, nem mesmo na direção de arte. Como das vezes anteriores, o projeto gráfico ficou inteiramente nas mãos do Studio Parris-Wakefield. Sarah Parris e Howard Wakefield desenvolveram um conceito visual para a atual turnê do New Order (incluindo uma logomarca) e na arte para Live at Bestival 2012 mantiveram-se fiéis a ele, tal como já haviam feito com o "irmão mais velho", Live at the London Troxy. O encarte é simples: com apenas duas páginas, possui, na primeira, uma foto da banda (de costas) tocando tirada do backstage pelo empresário Andrew Robinson com os créditos das músicas e da banda; na segunda, uma outra foto mostrando a platéia e o palco decorado e a frase "Sunday Best e Bestival gostariam de agradecer a todas as pessoas brilhantes que vieram, dançaram e amaram o New Order no Bestival 2012". E só. Nada de libreto recehado de fotos, entrevistas/comentários ou outros mimos. Até nesse aspecto, a banda nunca mais surpreendeu seus fãs... e não mais fizeram nada a altura das artes de Power, Corruption and Lies, Low Life ou Republic.