Peter Hook apresenta Unknown Pleasures em CD ao vivo

10/10/2010 14:31

Peter Hook's The Light Perform 'Unknown Pleasures' Live at Vintage at Goodwood, primeiro CD duplo ao vivo do ex-baixista do New Order e sua nova banda-tributo dedicada a tocar o repertório de seu ex-grupo mais antigo, o Joy Division, traz um conceito interessante, para não dizer incomum: você compra o disco (única e exclusivamente pelo site da gravadora Abbey Road Live Here Now) e leva, de "bônus", o registro do soundcheck (passagem de som).

Há quem veja nessa atual empreitada de Peter Hook puro oportunismo - ou necrofilia simbólica. Afinal, uma coisa era o New Order tocar umas três ou quatro músicas do Joy Division em seus shows, às vezes com arranjos "atualizados"; outra, completamente diferente, é montar uma banda nova e sair em turnê com ela somente para tocar as canções do Joy, não é mesmo? Bem, mais ou menos... É verdade que a última cartada de Hooky fora do New Order, o "supergrupo" de baixistas Freebass, não passou de fogo de palha e que pegar carona no revival do Joy Division, catalisado pelos filmes 24 Hour Party People e Control e pelo sucesso de bandas seguidoras como Interpol e Editors, parecia o único jeito de se manter em evidência aos 54 anos. Mas não podemos nos esquecer que o Sr. Pedro Gancho, justamente por ter feito parte de um dos grupos mais cultuados de sua geração, é a razão de existir dessa nova onda revivalista. Por isso, ele tem o direito moral - e não apenas legal e econômico - de revisitar o passado.  

Sendo assim, Live at Vintage at Goodwood até pode ser considerado só mais uma forma fácil de Peter Hook angariar dividendos (financeiros) com o espólio do Joy Division. Entretanto, enxergar as coisas apenas por esse ângulo significa deixar passar em branco um detalhe digno de nota: o disco é bom. A voz de Hooky, grave, se encaixa bem onde antes estrelava uma outra voz, a de Ian Curtis. O mesmo vale para as músicas nas quais Rowetta, ex-backing voice dos Happy Mondays, marca sua presença como convidada: "Insight", "New Dawn Fades" e "Atmosphere" (soberba). As linhas de baixo, desde sempre um dos principais destaques no som do JD, brilham em noite inspirada, embora no The Light elas sejam, na verdade, tocadas em grande parte por Jack Bates, filho de Peter Hook. Mas nem se nota a diferença.  

Por outro lado, Hooky e seu The Light são ortodoxos na abordagem das músicas e, por isso, os arranjos praticamente não sofreram modificações. As exceções são "She's Lost Control", "Transmission" e "Love Will Tear Us Apart", aditivadas por orquestra e coral.  No mais, os músicos (que além de P.H. e Jack Bates incluem ainda o tecladista Andy Poole e o baterista Paul Kehoe, egressos do Monaco, e o guitarrista Nat Wason) se detém na reprodução de riffs, acordes e solos praticamente do mesmo jeito como estão nos discos. Logo, apesar da incontestável qualidade das performances, fica um cheiro de "banda cover" no ar. Uma excelente banda cover, é verdade, mas uma pitada de "transgressão" na execução das músicas imprimiria um pouco mais de personalidade própria a esta versão do Peter Hook and The Light ao clássico LP Unknown Pleasures e tiraria um pouco a carga de saudosismo que impregna o atual investimento do baixista. 

Na falta de interesse, pelo menos nesse momento, na produção de material de estúdio inédito, Peter Hook segue em frente celebrando seu glorioso passado, além de faturar com ele, porém deixando registros apreciáveis e de qualidade como este 'Unknown Pleasures' Live at Vintage at Goodwood. Isto pelo menos ainda faz melhor figura na sua biografia que as farpas que andou trocando com seus ex-companheiros de New Order pela imprensa.